Claudia Feliz
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A dor causada pela violência que se abateu sobre Maria Amália, 58, e Renato Guerra, 62, não tirou de ambos a determinação de exigir justiça e cobrar das autoridades mais segurança. O casal perdeu o filho mais velho, Renato Brahin Guerra, 29, no último sábado, às 11h40, vítima de um tiro disparado por ladrões que levaram seu carro em frente à casa da família, na Prainha, em Vila Velha.
“Enquanto os governantes não fizerem algo para garantir a segurança da população, não existirá família feliz”, diz Maria Amália, que mora na mesma residência onde cresceu e criou os filhos. Lá, vem assistindo, com o marido, ao aumento crescente da insegurança.
Não é incomum, segundo ela, ouvir pedidos de socorro vindos da rua, de pessoas que são alvo de furtos e roubos. “Eu mesmo ajudei a socorrer uma vizinha de 90 anos, que quebrou a perna ao ser assaltada”, lembra Renato Guerra. Ele e a mulher não pensam em sair da Prainha, mas dizem que, nos últimos tempos, famílias que moravam no bairro venderam suas casas.
O casal também cobra das autoridades maior rigor na punição de criminosos. “A lei tem que mudar. Quem comete um crime não pode sair logo da cadeia”, defendem. Um dos suspeitos presos pela morte de Renato foi condenado por homicídio em 2008 e já estava em liberdade.
Para Maria Amália, além da falta de policiamento nas ruas, falta estrutura a muitas famílias. “Nossos filhos foram criados com limite, sem vícios, estudaram, sempre foram elogiados no trabalho. Preocupavam-me quando saíam à noite, e eu pedia que me ligassem de onde estivessem. Mas foi justamente na porta da minha casa, considerada segura, que perdi Renato. Um menino lindo, alegre, um filhão”, diz ela, na residência protegida por grades.
Renato foi baleado no abdômen quando aguardava a mãe e o irmão na porta do imóvel. Eles buscariam o pai, que estava em outro local, para almoçarem. Renato morreu no hospital. Os ladrões abandonaram seu carro logo depois, em Ataíde, no mesmo município.
Trabalhador e bom filho
Primeiro
Renato Brahim Guerra era o filho mais velho do casal Maria Amália e Renato Guerra, que tem outro filho, de 25 anos, advogado
Bairro
Ele tinha 29 anos e nasceu na Prainha, em Vila Velha, onde a família de sua mãe reside desde 1960
Formação
Renato era formado em Marketing, mas trabalhava havia seis anos como representante comercial de uma empresa de papel e celulose
Alegria
Seus pais descrevem-no como uma pessoa alegre, que adorava ouvir música e viajar com a família
Mais duas vítimas reconhecem suspeitos do assassinato
Nelson Dannemann Gomes, 27 anos, e Diego Arthur Mendes, 20, presos sob suspeita da morte do representante comercial Renato Brahim Guerra, 29, foram reconhecidos por outras duas vítimas de roubo de veículo, segundo o delegado José Lopes.
Uma mulher disse que a dupla teria tentado matá-la em Vila Nova, Vila Velha, no último dia 26, apertando o gatilho três vezes. A arma não disparou. Segundo ela, havia um terceiro homem, num Vectra branco, dando cobertura a eles.
Outro crime teria ocorrido em Soteco, Vila Velha. Um homem disse ter sido atingido por coronhadas de revólver dadas pelos dois bandidos.
Sobre a morte de Renato, o delegado colheu impressões digitais no carro da vítima para confrontá-las com as de Nelson e Diego. Também enviou um revólver 38 apreendido com a dupla para comparação com o projétil que matou o rapaz de 29 anos.
Nelson e Diego foram presos em Vitória, no sábado, com um Vectra preto roubado e com o revólver. Por isso tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça. Nelson foi reconhecido, ainda, como o homem que dirigia o carro de Renato. Ele e Diego negam esse crime. Além disso, têm outro aspecto em comum: vivem na mesma região que a vítima – Nelson diz ser morador da Prainha; e Diego, do Centro.

Nelson Gomes
Homicídio:
Furto:
Nelson Gomes também foi autuado por furto em janeiro de 2010Diego Mendes
Crimes:
Moradores e comerciantes reclamam de insegurança
Após a morte do representante comercial Renato Brahim Guerra, 29 anos, no último sábado, o clima é de medo e preocupação entre moradores e comerciantes da Prainha, em Vila Velha. Eles reclamam que os assaltos se tornaram frequentes, sendo a maioria cometida por usuários de drogas que se instalaram na região.
Quem vive e trabalha no local afirma que é difícil encontrar polícia fazendo rondas no bairro. Um comerciante de 38 anos que não quis se identificar contratou seguranças particulares. “Como trabalho à noite, preciso de pessoas para vigiarem meu comércio a partir das 23h. Não temos segurança na Prainha. É um local que se tornou muito perigoso”, diz.
O economista Renato Ximenes Bolsanello, morador do bairro, afirma que o policiamento é reforçado durante a Festa da Penha, mas depois as rondas deixam de ser feitas. “O Convento é o principal ponto turístico do Estado, e não temos policiamento nem câmeras no bairro”, frisa.
A Polícia Militar informou que a Prainha tem baixo índice de criminalidade e que o patrulhamento é feito por policiais a pé e em viaturas, bicicletas, motos.(Samanta Nogueira)