A possibilidade de repercussão negativa com a liberação para abertura de gabinetes externos, os chamados ‘puxadinhos’ da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), fez os deputados recuarem frente a proposta. Uma resolução que tramitava no Legislativo permitia a abertura desses gabinetes, caso fosse aprovada em comissões e em votação no Plenário.
Essa resolução foi retirada de pauta por decisão unânime do colégio de líderes e a Mesa Diretora, segundo o presidente da Ales, deputado Rodrigo Chamoun (PSB). Os parlamentares justificaram a decisão como uma ‘sintonia com os anseios da sociedade’. “Os líderes fizeram reflexões nos últimos dias e ouviram a opinião pública e em conexão com a opinião pública resolveram pela retirada da proposta da pauta. Apesar de haver um plenário bastante dividido até um dia antes dessa decisão”, declarou Chamoun.
A definição do colégio de líderes, junto com o presidente, membros da Mesa Diretora e outros deputados, ocorreu no início da tarde desta terça-feira (27), após reunião de duas horas na Presidência da Ales. O líder do PT, deputado Cláudio Vereza, afirma que não foi difícil chegar a um acordo. “Não foi difícil chegar a um consenso. A decisão foi amadurecida desde ontem (segunda). Hoje de forma antenada com a sociedade nós decidimos apoiar a Mesa Diretora na intenção de retirar a matéria de pauta”, disse.
Líder de bancada do mesmo partido do presidente do Legislativo, e com base eleitoral em São Mateus no Norte do Estado, o deputado Freitas (PSB) afirma que é favorável à abertura dos gabinetes fora da Ales, especificamente para o interior do Estado, mas diz votou pela harmonia entre os parlamentares.
“O gabinete externo para o deputado do interior é legítimo. É uma ferramente a mais de trabalho. Eu não me senti contrariado com essa decisão. Em hipótese nenhuma, mas acho que precisamos de ter a maturidade de colocar os pensamentos da gente, e em um tempo oportuno avançar. Se tinha necessidade neste momento, em função do consenso e da harmonia parlamentar não há problema em dar um passo para trás agora, para posteriormente, quem sabe, dar dois ou três passos para frente”, disse.
Eleições municipais
A resolução previa o deslocamento de alguns dos 18 assessores de gabinete, sem novas contratações, para os endereços externos e metade da verba de gabinete (R$ 7,8 mil) disponível para custeio nos ‘puxadinhos’ instalados nas bases eleitorais.
Atualmente a proposta estava na Procuradoria da Ales onde seria publicado parecer, antes de haver três discussões especiais em Plenário, tramitação nas Comissões de Justiça e Finanças e retorno ao Plenário para votação. Os parlamentares negaram que o recuo esteja ligado a interesses políticos, como as eleições municipais de 2012.
“Não acredito que essa decisão tenha sofrido qualquer influência da disputa eleitoral do ano que vem. Acho que esse é um resultado ligado ao movimento da sociedade”, afirmou o 1º secretário da Mesa Diretora, Roberto Carlos (PT).
“Nada disso influenciou a decisão da Mesa Diretora e nós votamos junto com ela para a retirada da proposta da pauta. Na minha visão não haveria problema nenhum existir esses gabinetes externos. Afinal, se existe uma verba dentro do orçamento não há o que contestar”, garante o líder do PR, deputado Gilsinho Lopes.
Imagem arranhada
O deputado Theodorico Ferraço (DEM) afirmou que o gabinete externo seria, na realidade, o ‘gabinete da enganação’ e explica porque chegou a essa conclusão de que a criação dos gabinetes arranharia a imagem do Legislativo.
“Arranha porque acabaria sendo um gabinete de enganação. Isso porque o deputado não poderia ficar permanentemente no gabinete, pois passando a ser um gabinete oficial o parlamentar precisaria dar presença. Ele daria presença para gente procurando por dinheiro, por recursos, favores pessoais e coisas que não são atribuições de um deputado estadual. O mandato do deputado deve ser em favor do Espírito Santo”, afirmou Theodorico.
A ‘resolução dos puxadinhos’ estava incluída na Reforma Administrativa da Ales, desde o final de 2010, após os trabalhos de integrantes de uma comissão designada pelos membros da Mesa Diretora, presidida, na época, pelo deputado Elcio Alvares (DEM).