O tempo nem importa muito. Podem ter sido 30, 15, 10 ou até mesmo sete dias de férias. Mas a tristeza da volta ao trabalho está sempre presente. O último final de semana de folga, a última noite, os segundos finais com a perna para o ar. Se cada minuto mais perto da volta ao trabalho representa dor e sofrimento, cuidado. É possível estar sofrendo de depressão pós-férias.
Psicólogos, médicos e especialistas em carreira concordam. Esse mal existe e pode ser evitado. Mas quanto a um ponto específico não é possível fazer nada. O primeiro sinal da depressão pós-férias é a insatisfação com o trabalho. Nesse caso, o remédio é trocar de emprego.
Especialista em felicidade, desenvolvimento humano e psicóloga, Angelita Scárdua diz que a depressão pós-férias é resultado de uma série de fatores. A quebra do ritmo de vida, muito mais leve e tranquilo durante o recesso, é um deles. “Você acaba se envolvendo em atividades de ócio, de prazer, que não exigem muito esforço ou responsabilidades. E quando a pessoa tem de voltar a rotina diária é natural alguma dificuldade. Os horários, os prazos, tudo volta a valer”, explica.
Angelita esclarece que essa dificuldade de adaptação é acentuada quando existe algum tipo de insatisfação com o emprego. “Grande parte das pessoas não estão satisfeitas com o trabalho. Seja por fatores financeiros ou pelo ambiente. A partir desse ponto, muitos ficam 15, 30 dias longe de um lugar onde não queriam estar. Convivem só com quem gostam, fazem o que querem. Mas, no final tem de voltar para aquele lugar ruim. Deixar esse conforto é difícil e pode gerar a depressão pós-férias, onde a insatisfação da pessoa fica muito mais forte e evidente”, detalha.
Sem rupturas bruscas
O consultor de recursos humanos Glauber Cabral defende que não faz mal olhar o e-mail do trabalho de vez em quando. “Quando ficamos muito distantes do emprego é comum se sentir mal na volta. Aconselho a entrar no site da empresa, fazer contato com os colegas de vez em quando e, assim que voltar, procurar se inteirar do que aconteceu”, recomenda.
Cabral compara o trabalhador que volta das férias ao aluno que falta uma grande quantidade de aulas. “Quando volta, não sabe o que aconteceu, as regras de avaliação mudaram, novos trabalhos surgiram e ele diz que não soube de nada. Por isso é importante se informar. O problema é que muitos passam por grandes tensões e estresse e, quando tiram férias, querem esquecer de tudo. Não é por ai”, explica.
Na opinião do consultor, as pessoas devem aproveitar os dias sem trabalho para conhecer novas pessoas, viajar e se deliciar com outras culturas, além de descansar, claro.
O clínico geral Cristiano Cesana concorda. Para ele, a ruptura brusca de estilos de vida é o que ocasiona a depressão pós-férias. “Logo após o descanso voltam as cobranças, os horários e as obrigações. Nesse quadro as pessoas começam a apresentar melancolia, cansaço e em casos mais graves a depressão”, analisa.
Para o médico, é possível evitar esse mal de forma bem simples. “Toda situação de mudança gera estresse, ansiedade. Para fugir desses sintomas recomendo que as pessoas organizem bem o trabalho antes de entrar de férias. Deixe tudo programado e planejado para que os colegas o possam ajudar a não encontrar tarefas acumuladas na volta. Além disso, também é recomendável durante o recesso se desligar totalmente do emprego. Desde que, nos últimos dias, a rotina comece a ser adotada de forma moderada”, diz.
Entre as recomendações para não colocar em choque o descanso e o dever, Cesana recomenda acordar em horários parecidos com o do trabalho, fazer atividades físicas e pegar o ritmo com o tempo. “Jogador que volta de lesão não começa jogando com tudo. Eles vão melhorando devagar. No nosso trabalho também é assim, as primeiras semanas são mais difíceis mas com o tempo tudo vai se ajeitando”, avalia o médico.
De longe, a visão é mais clara
A psicóloga Angelita Scárdua esclarece que a depressão pós-férias é mais evidente quando o ambiente muda um pouco. “Quando estamos trabalhando tudo fica automático, não é possível perceber bem o que está acontecendo. Para evitar esse sentimento é necessário ter claro em mente que as férias são só um intervalo e que isso não vai resolver a nossa vida. Se a insatisfação for mesmo muito grande é preciso mudar de emprego, trocar de ares”, aconselha.
Uma pesquisa divulgada pelo International Stress Management Association (Isma) em 2011 mostra que a depressão pós-férias é comum em cerca de 23% dos brasileiros. O trabalho foi além e verificou que em 93% dos casos, os principais motivos são: falta de motivação no trabalho seguido de falta de perspectiva, ambiente inseguro e conflitos de relacionamentos.